Ione Berenice Helvécio
A leitura dos textos e o vídeo indicados para esta
reflexão no curso Proinfo-2012 remetem às mudanças que vêm ocorrendo no espaço
escolar nas últimas décadas. Tais leituras me fizeram recordar este conto de
Eduardo Galeano.
“A função da Arte.
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das
dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas
alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de
beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao
pai: - Me ajuda a olhar!"
Eduardo Galeano - Livro dos Abraços”
Onde fica o fim do mundo? Quanto tempo se leva para
dar a volta ao mundo, caminhando? Quem inventou o radinho de pilha? Por que é
que cadeira se chama cadeira? Quem inventou a democracia? Como é que se
transforma informação em conhecimento? Como se diz “Deus salve a América” em
mandarim? Por que os barcos não afundam? Como se aprende a pensar?
Acredito que a maioria dos leitores nascidos antes
da chegada do século XXI tende a buscar uma resposta única e certa para estas
perguntas. Tendemos a acreditar que devemos ser capazes de saber todas as
respostas, para todas as questões. Aliás, era assim que nos motivávamos a
estudar e aprender. E aprender foi, durante muito tempo, sinônimo de decorar
respostas certas. Então, daqueles que eram capazes de decorar mais coisas em
menos tempo, se dizia que eram mais inteligentes, pois aprendiam rápido (????).
Ademais, se supunha que as respostas estavam todas no mesmo lugar/pessoa:
escola/professor.
Entretanto, algumas mudanças significativas podem nos
levar a rever as afirmações anteriores. Isso, em primeiro lugar, porque
atualmente “buscar” equivale mais a “perguntar ao Google” que a examinar,
pensar ou investigar. Se fizermos todas aquelas perguntas num site de busca,
encontraremos respostas. Então, se as respostas estão todas on-line, a disposição para quando se
necessite, deduz-se que já não é necessário saber nada de memoria, certo?
Decorar para quê, se vários sites têm as respostas? Basta consultar um site de
pesquisa, certo? É. Pode ser. Neste ponto, chega-se a conclusão de que o
professor do passado... era o Google?
A maioria das pessoas nascidas na era pós-internet, acredita que sim. Que tudo
que o professor tem para lhe dizer, está no Google.
O que, para nossa alegria, tem um pouco de verdade.
Sendo assim, conforme li em algum lugar – cujo nome
não me lembro neste momento - o fato de o professor não precisar mais exercer
este papel de site de busca, somente, o liberta para outras tarefas mais
prazerosas, como ensinar a usar toda esta informação, ensinar a pensar. É ai
que entra o grande desafio: acreditar que é possível transformar toda esta
informação em conhecimento.
Conforme dito em oportunidade anterior, informação e
conhecimento são duas coisas diferentes. Informação equivale aos dados que se
tem a disposição; a informação pode ser esquecida, pode ter vida breve. E, além
de ser cada vez mais abundante, pode ser conseguida por meio de vários
dispositivos. O conhecimento, por outro lado, é o resultado do que se faz com
as informações recebidas. É o conhecimento que permite que se tome decisões, se
assuma posturas ou se rejeite ideias. Dizendo de outra forma, o conhecimento é
permanente, enquanto que a informação pode ser momentânea.
Então, é preciso conseguir mostrar para um número
cada vez maior de pessoas que saber é igual a entender, que entender pressupõem
descobrir, e que para tanto, valem as tentativas e os erros. Sim: valem os
erros sempre e quando sejam parte da procura, da descoberta, da tentativa.
Apesar de que ninguém mais queira decorar, ainda vivemos a cultura do acerto. O
bom é acertar, sempre, de primeira. Ainda que este acerto seja apenas cópia,
sem deliberação. Sendo assim, é vital o convencimento de que o erro faz parte
do processo. Erra quem tenta o novo, quem propõe soluções, quem toma decisões,
quem pensa por conta própria. Concordo com a ideia de que não adianta saber
gramática, trigonometria ou astronomia se não se é capaz de tomar decisões, de
resolver problemas (devo ter lido/ouvido isto em algum lugar, mas também não me
lembro de onde foi).
Certamente, esta não é a única resposta possível,
mas acredito que para superar o desafio de converter informação em
conhecimento, será necessário, antes, superar o desafio de aprender a pensar. Assim
como Diego, personagem do conto de Galeano, precisamos de ajuda para conseguir
“ver” tudo que as novas tecnologias nos oferecem.
Ativ1_3_Diário de bordo_IoneBereniceHelvecio. Julio/2012